Meio ambiente dos pobres. R. Amorim

A percepção da realidade em que se vive é termômetro das tensões sociais e possíveis perspectivas de mudanças desta mesma realidade.
Quanto menor o conhecimento de outros modos de se viver, maiores serão as chances de prevalência dos atos absurdos praticados contra a natureza e consequentemente contra a vida.
Cada País, Estado e Cidade, assim como possui distintas paisagens e ecossistemas, possuem distintas maneiras de se relacionar com elas. A cultura, o costume e não só, determina grande parte da dinâmica desta relação. Mas, um atenuador de possíveis exageros é o conhecimento e a lei. Não necessariamente nesta ordem.
A consequência de toda esta dinâmica relacional reflete diretamente na saúde e conseqentemente na vida e morte das populações. Como sempre acontece no reino animal, os mais frágeis e fracos da sociedade sã os que sofrem as maiores consequências.
O Estado, ente coordenador da sociedade moderna, entra nesta história para dirimir conflitos e aplainar desigualdades. Para isto, este, dita regras e estabelece órgãos subjacentes para controlar os desvios de comportamento. Pronto! Nascem daí os grandes conflitos e contradições.
O Estado, principalmente no Brasil, muitas das vezes se confunde com as pessoas que estão com o seu poder. As leis se transformam em “letra morta” e as estratégias necessárias para se manter este poder e que na verdade passam a ditar os caminhos a serem seguidos. Neste ínterim, quem mais sofre são os pobres em recursos financeiros e em educação. Como este, sofre também as consequências o seu meio ambiente. Mais especificamente a água, a habitação, o lazer e principalmente a educação.
Portanto é inócuo, inocente e conveniente falar em meio ambiente apenas como plantio de árvores e em temas transversais para serem tratados nas escolas. Falando em parábola, e parafraseando o dito popular: “enquanto as piranhas comem o boi e os bobos românticos se amarram em árvores, a manada atravessa o rio desviando recursos, jogando esgoto nos córregos, lixo nos lixões, e abrindo lotes nos altos dos morros e em áreas de risco”.
Continue lendo... VIVENDO NA BEIRA DO ABISMO. _ A região onde está localizado o município de Tarumirim até meados dos anos de 1920, era local de terras férteis, clima ameno e úmido. Existia um rural selvagem e começava-se a instalar o rural bucólico, com casinhas de sapé e paredes de tijolos de barro, hoje ainda cantado em modas sertanejas e existente na imaginação de muitos que ainda dormem.
Doenças existiam e pobreza também, mas esta era menor, porque não existia muito para se comprar e acima de tudo havia também amizade verdadeira de quem dependia muito de seu vizinho. Este sentimento era alimentado quase todas as tardes, quando muitos se reuniam nas portas das casas e nas vendinhas. As comadres com seus terços, linhas e crendices e os compadres armados dos seus causos, inspirados daquilo que se passava na lida do seu dia a dia.
Tudo isto ficou esquecido, em um passado que embora não muito longe se tornou muito distante e apagado. A representação do sentimento e dinâmica do que hoje existe, assim como no passado reflete bem as paisagens naturais que se tem.
As novelas transmitidas pela TV calaram as conversas e hoje o que se ouve é um monólogo de uma cultura importada e vazia que doutrina os corações das donas de casa e não só. As comadres se extinguiram, no lugar restou uma relação de compadrio vazia, que muitas das vezes se estabelece e termina entre a porta de entrada e saída da igreja.
Os homens também já não contam causos, discutem mesmo é sobre emoções que não são suas, de fatos principalmente de política partidária e de futebol. Tudo isto, sempre embalado ao som de canções como, “beber cair e levantar”. Os filhos já não se deitam as nove, pelo contrário saem as dez, entoando mantras violentos e sacudindo com o “rebolation”.
“O ser humano transforma o meio em que vive, mas sofre as transformações deste mesmo meio que adulterou”! As origens das doenças, da infelicidade, da depressão, do sentimento que vivemos hoje de fim de festa, é consequência do caus ambiental que aqui se instalou. A mensagem positiva, é que ainda existe tempo para o resgate!
Deus, o Senhor da história, nos dá sempre a oportunidade de reparar os nossos erros. O primeiro passo é reconhecer que pecamos contra ele, pecando contra suas obras. O seguinte é, quem sabe, através de gestos simples como ser mais amigo, separar o lixo, consumir menos coisas, plantar mais árvores, novamente voltar a ter a esperança de reconstruir um futuro melhor. Porque do jeito que está, não só nosso município e região, mas nós mesmos caminhamos a passos largos para a extinção.

RÔMULO PERENTONI AMORIM, Secretário de Meio Ambiente em Tarumirim. Conheça a casa feita de material reciclável, garrafas de pet, feita por ele no horto florestal ao lado da praça de eventos “Peão Boiadeiro” – Córrego do Parado.

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